Para pesquisadores, o que acontece com a zika já ocorreu com outras doenças ligadas à pobreza e fáceis de prevenir, como malária, Aids e tuberculose

Favela
em Mérida, na Venezuela: pobreza é terreno fértil para doenças de fácil
prevenção (Foto Jorge Andrés Paparoni Bruzual/ Flickr)
À primeira vista, doenças como o zika vírus parecem surgir do nada e
se espalhar freneticamente. Uma segunda olhada por parte da comunidade
científica permite ver os principais fatores por trás do quadro trágico
que se forma em países como Brasil, Colômbia e Venezuela.
Para cientistas, a urbanização precária é determinante para o aumento
da incidência. Doenças transmitidas por vetores, caso da zika, atingem
pobres que não têm governo capaz de protegê-los e vivem em habitações de
péssima qualidade,em vizinhanças cercadas de lixo, esgoto a céu aberto e
objetos abandonados acumulando água.
Habitantes de Guatelama, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá
também não escaparam do vírus. De acordo com Peter Hotez, reitor da
Escola Nacional de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina de Baylor,
seguindo essa lógica, outras regiões que passaram por urbanização
recente e concentram moradias degradadas devem se tornar as próximas
vítimas da epidemia, caso do Haiti e das ilhas do Caribe. Apesar da
previsibilidade, cidades desses locais certamente não melhorarão a tempo
de impedir o pior.
O que está acontecendo com a zika já ocorreu com outras doenças
correlacionados à pobreza e fáceis de prevenir, como Aids, malária e
tuberculose. Elas continuam fazendo vítimas porque, em última instância,
só atingem pobres. É o que diz o filósofo britânico William MacAskill,
autor da teoria do altruísmo eficiente. Segundo ele, a malária, por
exemplo, é responsável por 3,3% das mortes globais por doença, mas
recebe bem menos investimento do que outras doenças, como o câncer. “Se a
luta contra a malária recebesse proporcionalmente os mesmos recursos
que a batalha contra o câncer, seriam cerca de 100 bilhões de dólares
por ano. Mas a verdade é que apenas 1,6 bilhão de dólares é gasto com
malária por ano, sessenta vezes menos do que o esperado”, afirma.
Na Venezuela, as taxas de malária aumentaram e houve surtos urbanos
recentes da esquistossomose e doença de Chagas. Agora, brasileiros e
venezuelanos enfrentam recessão ao mesmo tempo em que registram aumento
no número de casos de zika. Tentar sair dessa situação sem que haja
investimento é percorrer um labirinto dramático.
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